Mais uma carta de amor

por M. S. Costa

Se o mundo pudesse ser representado por uma pessoa, ela agora seria alguém por quem, ao que tudo indica no momento, o ódio abunda aqui dentro. Deve ser que a positividade venha surtir efeito nas mentes dos que amam, mas vejo que amo o abstrato que pouco conhecia; pelo que é tornado objetivo pelo mundo acresce uma negatividade que se prontifica em irritação que vai e volta. Não porque a pessoa se vai, mas porque vai e volta e até agora temos postergado o que é certo e saudável e preciso fazer desafeto o que me perturba. Flores do campo blá blá blá. Temos aqui um acordo em que permanecemos para sempre, só que não. Gentios que se tornam anjos, só que não. Nada de “sim, sim” ou “não, não”. Somos um eterno talvez e é tão simples perceber o aborrecimento disto e a vontade de destrinchar o irresoluto e jogá-lo longe num buraco negro faminto pelos conteúdos das almas indecisas e partidárias da Irresolução.

Esta carta, ela mesma, será após escrita jogada no além, porque há um ciclo que é nosso e que se repete. Tenho esperanças, no entanto, porque assim deve ser. Quero me lançar ao Paraíso, mas ainda não é tempo. Quando estudante, chamava pessoas de sujeitos e indivíduos, enfim… toda essa gente, seja qual for, caminha por uma estrada que é parte de um plano perfeito, no entanto, por suas decisões, consome o tempo e gasta energias com o que foge ao plano. Sonhei que tinha te visto e, no decorrer do dia, te vi. Mas decidimos que não mais seria o caso de acreditar em sonhos. Porque eu odiava o mundo em você, você eu não sei o que sentia, mas me parecia que tinha tido uma sombra de dúvida, nada mais.

Meus heróis sou eu quando tenho alguma fé. Não era meu desejo corromper o mundo com mais amargura. Achava que éramos mais importantes que o que podíamos ser e, por esta razão, me perdi do sentido, portanto nada fez sentido. Há que levar em consideração que tem prisões sem grades onde nos colocamos mansamente, porém vou tentar não ser tão indelicada ao gritar.

[aqui jaz um espaço para um grito]

Tudo levaria a crer que o desapego que me disseram eficaz deveria ser fato. Não sei, talvez só haja algo maior que nós, uma força que nos persegue enquanto veneramos um ao outro, como se fôssemos dois no planeta, buscando constantemente nossos ídolos, nós, enquanto chamamos isso de paixão e a deitamos num catre que vemos ao longe.