Quatro filmes estrangeiros e algumas impressões sobre eles

por M. S. Costa

A variedade dos filmes andava se restringindo aos americanos, quase sempre. Um americano de ação, um drama americano, uma aventura americana, uma comédia adolescente americana. Variavam assim até que, quando parei para ver um filme novamente, houve um irlandês e canadense chamado O Quarto De Jack. Mas, porque gostava de ver outras fantásticas obras cinematográficas estrangeiras e a oportunidade estava presente, consegui assistir ao chinês Amor Para A Eternidade, ao húngaro O Filho De Saul e ao antiquíssimo italiano Vagas Estrelas da Ursa.

O Quarto de Jack era, sim, como rapidamente verifiquei na Internet, baseado naquela história Room de um livro que ouvi falar faz tempo e que logo quis ler, mas adiei. De uma autora irlandesa que vivia no Canadá, sobre um tema que a chocava enquanto ela lia e pesquisava a respeito, sobre a privação da liberdade e pessoas mantidas em cativeiro. E era também sobre a relação mãe-filho. No filme, muito se passa sob a perspectiva poética de uma criança de cinco anos e de uma mãe.

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A China e o Japão, achava-os atraentes culturalmente quando mais nova e procurava me inteirar de algumas histórias que contavam de lá, da Revolução Chinesa, dos samurais japoneses e até sobre o Kung Fu e o livro As Boas Mulheres Da China, que o que tivessem de boas tinham, em medida semelhante, sofrido durante a Revolução.

Amor Para A Eternidade me fez voltar a esse tempo, de certo modo, embora fosse diferente de tudo que tinha visto até então. É a história de um homem que é preso durante a Revolução Cultural, deixando sua família para a qual ele retorna anos depois, encontrando a filha que havia desistido de ser uma bailarina e a esposa que não o reconhece por conta de uma amnésia que o médico diz ser psicogênica.

Pode ser que a doença tenha sido mostrada no filme com os sinais de um Alzheimer, diz Lucas Augusto. Arrisco um palpite de que tenha se originado de um trauma ou da lesão que ela adquire na estação de trem. O médico, em dada cena, aventa possibilidades de tratamento psicanalítico, este que, por sua vez, só haveria fora da China…

Um certo preconceito bateu à porta quando pensei que se se tratasse de um filme brasileiro ou americano, a história se dava de modo que ele a deixasse ou traísse por não reconhecê-lo mais ou, no mínimo, teria um amigo que o encorajaria a isso ou algo parecido. Mas gostei do modo como o tema foi tratado no filme e meus preconceitos quanto ao mais em breve deixaram de perambular nos pensamentos. Achei-o “bonito”, como diz minha avó quando gosta de um filme.

 

E, então, veio O Filho De Saul. Não, digo, antes veio o comentário que às vezes fazem sobre o que venha a passar em seguida, dizendo tratar-se de um filme a respeito do Holocausto. De imediato, a essa referência imaginei toda a carnificina que viria dar seguimento à programação do dia. E, não, não foi diferente.

Géza Röhig interpreta Saul sob direção de László Nemes, nesse filme que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2016, e ele interpreta um personagem que, em dado momento, já se vê como um morto: “já estamos mortos”, diz. Ele é parte do Sonderkommando, os prisioneiros do campo de concentração que eram obrigados a trabalhar para os nazistas nos extermínios em massa. No entanto, há essa criança que Saul diz ser seu filho e ele busca para o menino um sepultamento que ainda demonstre algum respeito pelo morto.

O filme todo passa como se fosse contado por Saul: onde os olhos dele se dirigem ou que parte do todo queira focar, as câmeras focam junto e você consegue entender o que ele vê e sente. Como havia sido dito naquele comentário prévio ao filme, era necessária certa fleugma para fazer parte do Sonderkommando e o filme mantém os cadáveres de um extermínio em massa, mas este não é o foco, talvez por transparecer a frieza necessária e a perspectiva de um obstinado homem em busca de um enterro digno.

 

Vagas Estrelas Da Ursa era então um título poético de um filme sobre um casal que fazia uma viagem para a Itália. De fato, não só o nome lembra poesia, mas vem do poema Le Recordanze, de Giacomo Leopardi:

“Vagas estrelas da Ursa/ Não acreditava voltar a contemplá-las/ Cintilantes, no jardim paterno/ Nem refletir com vocês das janelas desta morada/ Onde morei quando criança e vi findar minhas alegrias.”

A casa para a qual o casal viaja ressuscita a história de uma bela esposa e é em torno deste passado que o mistério do enredo é posto e quem assiste a ele vai descobrindo mais, junto do marido, uma esposa que, segundo diz a sinopse, é uma mulher instável. Um bom suspense psicológico. Imagino que deve ter chocado um tanto na década de 60 quando foi lançado, pois trata de um tema tabu que, aos poucos, vamos conhecendo durante a história. Imagino, não sei.

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Há tempos não via filmes assim tão diferentes que me tomaram com as impressões que, afinal, trouxe para cá. Dramas para quem goste de drama, com temas fortes.

Por hoje é só. Até a próxima!

P. S.: clique nas imagens para ir à fonte delas.