De meu antigo baú

por M. S. Costa

ENGLISH

Freud dizia que, pelo mecanismo da sublimação, conteúdos internos indesejáveis poderiam ser transformados em comportamentos socialmente aceitáveis. Esse era um dos mais saudáveis mecanismos conforme classificou, podendo ser exemplificado, em vias gerais, pelo uso da arte ou por realizar atos de filantropia e ajudar ao próximo em trabalhos voluntários.

A poesia tem propriedades terapêuticas. Ela foi, por exemplo, utilizada em Oficinas de Poesia em um Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas, no sudeste. Se você já ouviu falar em Arteterapia, o nome explica-a por si. Uma terapia pelo uso da arte como meio.

Não quero adentrar técnicas agora. Gostaria mais é de dizer, por exemplo, que para Neuza Maria Spínola a poesia foi uma forma de terapia. Ou, do fundo do baú, tirar uma parte do texto sobre imaginação e organização mental, que havia escrito para término do curso de Psicologia em 2008:

(…) Considerando o ponto de vista relacional na construção do ser e a idéia da imaginação como abertura a possibilidades, ao novo, vemos que o sujeito não se atém a uma lei informada pelo outro somente, mas que é, também, um sujeito autônomo. Na medida em que se comunica com o outro, mas não se atém a este, abre-se ao que desconhece do outro em si mesmo, com movimentos imaginativos.

(…) De modo geral, pudemos apreender que a imaginação pode ser vista como uma instância do sujeito que remete a um ser que está em constante encontro com o mundo, e que se abre frente ao que lhe é “novo”, em movimentos de construção envolvidos em um sujeito bio-psico-sócio-histórico e espiritual.

Ao introduzir nossa discussão sobre imaginação e organização mental, havíamos referido o início das relações e à forma como se estabelece a relação entre leitor e obra. Pensamos que este início pode dar-se de variadas formas. Um início que talvez nem possa ser afirmado como início, como um grau zero de todos os acontecimentos posteriores. Isso acontece porque, muito embora a relação obra/leitor ocorra aqui e agora, trata-se de uma relação entre um sujeito que, anteriormente, escreveu a obra e outro que a lê no presente, ambos que pensam e sentem: indivíduos que conhecem e desconhecem: um, enquanto lê e o outro, enquanto escreve.

O que temos escrito retrata o que conhecemos no momento, em nossa relação com teorias escritas por alguns autores e com alguns sujeitos com os quais me relacionei durante experiência em Psicologia. Desconhecemos, porém, o que há além do que apreendemos no momento. No entanto, é possível asseverar que existem imagens, no ser, que surgem como informantes de uma realidade presente na subjetividade. São imagens que existem em todo sujeito, imagens que se ligam ao conhecido e ponto onde o desconhecido emerge, clamando por uma atividade imaginativa que se abra a esse desconhecido.

DSC00732