Liberdades

por M. S. Costa

Então, tem a liberdade que nada mais é do que poder fazer o que se quer. Quer dizer, é isso mesmo? Como na casa da mãe Joana, bem no cerne da expressão? Eu já nem sei. Liberdade hoje não é sempre ser livre amanhã. E como diria a música*, “disciplina é liberdade”.

Às vezes, tudo que eu queria entender é por que a gente segue tão diligentemente as regras daqui que são dirigidas tão assim como define Paulo Leminski: “a vida é as vacas que você põe no rio para atrair as piranhas enquanto a boiada passa.” Basicamente isso. Perfeito.

De fato, não vamos sair por aí quebrando os vidros das lojas alheias, porque estas pessoas só estão tentando sobreviver no mundo como ele é assim como todos, mas também não temos que aceitar cegamente que nos digam o que ser ou fazer de braços cruzados. Não. É isso mesmo. Aliás, palavrinha mágica. Liberdade é poder dizer não. Não, eu não vou casar. Não, eu não sou obrigada a não ser solteira. Não, eu não quero ter filhos. Não, eu discordo, quero ter filhos, oras bolas. Não, eu não vou votar no seu candidato! E assim por diante. Isto é de uma liberdade tão grande… Lógico que há consequências. A tua liberdade pode restringir a do outro e vice-versa, mas nada que um pouco de amizade verdadeira não suavize.

Liberdade é despir-se. Não das roupas. Destas, é fácil. Despir-se do que te disseram. Sobre amor. Sobre sexo. Sobre as regras subentendidas do jogo. Sobre você mesma(o). Como vai ser dali pra frente quando olhar pra trás e ver que tudo que restou foram os medos dos outros que você aprendeu a ter também desde criança? Dar-se conta de que isso acontece pode te fazer um bocado solitário, um tanto livre.

Eu só estou tentando fazer uma espécie de crônica, mas eu bem que poderia estar certa. Por fim, uma citação da parte do livro do motoqueiro Neil Peart que estou lendo, aquele que mencionei n’algum post atrás. Trata-se de uma carta a um amigo e ela fala de um outro tipo de liberdade, a que ele tem enquanto, ao mesmo tempo, vai tentando curar-se do luto por suas perdas.

“Há pessoas que realmente dizem me invejar, embora a maioria seja de estranhos, e duvido que você teria sido tão limitado ou egoísta a ponto de dizer uma coisa dessas. Isto é muito mais liberdade do que qualquer um jamais poderia sustentar. Isto é mais como um ‘voo desesperado’, e um outro nome que tenho para mim mesmo é Ghost Rider. Sou um fantasma, carrego alguns fantasmas comigo e viajo por um mundo que não é real. Por enquanto fico bem, contanto que eu me mantenha em movimento.”

 

*Há Tempos, do Legião Urbana (de novo).